Pisiquiatria Intervencionista  




A  Psiquiatria é um ramo da medicina que desenvolveu-se significativamente nas últimas décadas, visto que os tratamentos convencionais apresentam limitações importantes, tanto o tratamento psicofarmacológico (Medicamentoso) como o tratamento Psicoterapêutico. Mesmo associando essas duas modalidades terapêuticas, cerca de 30 a 40% dos pacientes não apresentam resposta clínica satisfatória, ou incompleta, quanto a remissão dos principais sintomas psicopatológicos. Sintomas e sinais que podem representar sofrimento significativo e consequente comprometimento funcional - social, acadêmico (escolar) e ocupacional (trabalho).

Dessa forma, foram surgindo novos procedimentos,  tratamentos e técnicas que acabaram sendo aprimoradas ao longo dos anos e que hoje estão baseadas em evidência clínica inquestionável. Assim, fazem parte daquilo que hoje denominamos de Psiquiatria Intervencionista, uma modalidade da Psiquiatria que continua em constante aperfeiçoamento, tanto pela pesquisa, como pela aquisição de novos conhecimentos. As técnicas modernas de Estimulação Cerebral e aplicação de escetamina são um exemplo disso.


ELETROCONVULSOTERAPIA CONTEMPORÂNEA - ECT



Médicos da idade média, como o suiço-alemão Paracelsus - que também era alquimista - já tinham conhecimento de que uma crise epileptforme poderia aliviar sintomas neuropsiquiátricos. Assim, ofereciam uma quantidade determinada de extrato da planta Cânfora, por via oral, para induzir uma crise e aliviar o sofrimento dos enfermos. Nessa época, muitos transtornos mentais eram interpretados como possessão demoníaca ou castigo divino e essas pessoas era vistas como perigosas e amaldiçoadas,  consequentemente segregadas da sociedade. (Campanha Psicofobia)

Muitas descobertas valiosas da Medicina ocorreram por acaso - Serendipidade. Entre as mais famosas estão a penicilina, primeiro antibiótico, Viagra (Sildenafil), o Raio X e o primeiro antidepressivo, iproniazida - medicamento inicialmente utilizado para tratamento da tuberculose.




(Cinnamomum Camphora) - Fonte Internet


A Cânfora é uma árvore de origem asiática que possui propriedades antissépticas, descongestionantes e analgésicas.  Por isso é utilizada em vários produtos de limpeza, pomadas, inalações e rituais religiosos. Em função de sua potente capacidade de estimular o sistema nervoso central, pode até induzir uma alteração súbita e temporária da atividade elétrica do cérebro, dependendo da dose, uma descarga incomum dos neurônios. O controle rigoroso (dosagem) pelas entidades regulatórias de saúde, sobre estes produtos, evita que acidentes domésticos ocorram com crianças que de alguma forma, encontram-se em ambientes vulneráveis. 


"Todas as substâncias são venenos, não existe nada que não seja veneno. A dose certa diferencia o veneno do remédio" - Paracelsus (1493-1541)


A ECT é uma técnica de estimulação cerebral que tem como objetivo fundamental restabelecer e reorganizar o funcionamento das redes neurais do cérebro. O aparelho, utilizado hoje em dia é importado dos Estados Unidos da América (EUA) e capaz de emitir pequenos pulsos elétricos (breve e ultrabreve), o que permite o ajuste individualizado do estímulo elétrico (carga) para cada paciente, com a mesma eficácia clínica. 

A ECT é realizada em ambiente hospitalar com anestesia geral  e é acompanhada por um médico anestesista e um psiquiatra.

A ECT produz uma espécie de "restart" cerebral - "reinicia" circuitos cerebrais, semelhante a "desligar" e imediatamente "ligar" um  computador. A ECT reprograma o Cérebro a nível Molecular, o que promove uma ambiente saudável para a comunicação Neuronal e a regulação emocional. A crise convulsiva é monitorada por um aparelho de EEG (Eletroencefalograma), pois a utilização de relaxantes musculares geralmente impede a visualização da crise motora. 

A ECT foi modificada e atualizada ao longo dos anos e assim é considerada um tratamento seguro e eficaz, especialmente para enfermidades neuropsiquiátricas graves e que não respondem a tratamentos convencionais. 

"Estudos recentes reforçam que a ECT continua sendo o tratamento biológico mais eficaz para depressão resistente, com taxas de resposta entre 55% e 90%, superiores às dos antidepressivos convencionais. Também tem mostrado eficácia na redução da ideação suicida e na prevenção de recaídas." (IA Copilot)

O psiquiatra, neurologista e professor de Nova Iorque Max Fink foi um pioneiro na área e considerava a Eletroconvulsoterapia (ECT) "a penicilina da psiquiatria". Em 1985 Fink fundou a revista Convulsive Therapy (agora chamada The Journal of ECT). Ele foi membro das forças-tarefa da Associação Americana de Psiquiatria na ECT 1975-1978 e 1987-1990


SEVENTY YEARS AN EXPERIMENTALIST IN NEUROLOGY AND PSYCHIATRY (Max Fink M.D.) - Fonte: Internet


indicações da ECT:


- DEPRESSÃO COM RISCO IMINENTE DE SUICIDIO 

- DEPRESSÃO REFRATÁRIA (RESISTENTE) A MEDICAMENTOS

- NECESSIDADE DE ACELERAR A RESPOSTA ANTIDEPRESSIVA

- DEPRESSÃO COM SINTOMAS PSICÓTICOS GRAVES (Delírios, alucinações e comportamento desorganizado)

- SINTOMAS CATATÔNICOS E MELANCÓLICOS

- DESNUTRIÇÃO GRAVE E RISCO DE MORTE

- Transtorno Afetivo Bipolar (Fases depressiva, mista e de Mania)

- Depressão recorrente

- Psicoses e Transtornos do Humor na GRAVIDEZ e PUERPÉRIO (Amamentação)

- Psicoses e Transtornos Afetivos na população Geriátrica

- Pacientes que não toleram os Efeitos Colaterais dos Medicamentos (idosos, oncológicos, inanição)

- Esquizofrenia Refratária e outras Psicoses

- Síndrome Neuroléptica Maligna

- Transtornos Mentais em Epilépticos

- Certas formas de Parkinson - Melhora dos sintomas Depressivos, Psicóticos e Axiais residuais - esta de forma transitória.

- Transtornos Mentais Orgânicos decorrentes de quadros infecciosos e metabólicos.

- Delirium

- Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

- Síndromes Psiquiátricas Resistentes ( sinais e sintomas de Depressão, Psicose e Agitação/hostilidade) no paciente com Demência

 


EFEITOS BIOLÓGICOS DA ECT 


Embora o mecanismo de ação não seja completamente conhecido, há evidências de pesquisas que evidenciam múltiplos mecanismos neurobiológicos para o efeito terapêutico da ECT:

* Altera a densidade e função de receptores de Glutamato e GABA

* Diminui marcadores inflamatórios do Cérebro, como citocinas pró-inflamatórias 

* Ação de Modulador Imunológico, reduzindo a neuroinflamação associada a transtornos mentais

* Aumento de BNDF (Fator Neurotrófico derivado do cérebro)

* Aumento temporário de VEGF (Fator de crescimento endotelial vascular), proteina que estimula a formação de novos vasos sanguíneos e também promove a Neurogênese - processo de crescimento de novos neurônios (proliferação de brotos dendríticos)

* Aumento da expressão de GDNF (Fator neurotrófico derivado da linhagem de células gliais), principalmente em Hipocampo, região relacionada ao controle do Humor. Também pode promover a sobrevivência neuronal em neurônios dopaminérgicos e motores.

* FGF-2 (Fator de crescimento de fibroblastos).

* Reduz a sensibilidade de receptores do estresse, como os de Cortisol

* Diminui os níveis de Cortisol em pacientes com depressão, especialmente aqueles com hiperatividade do eixo HPA (Hipotálamo-Hipófise-Adrenal) 

* Aumento da conectividade em Hipocampo

* Modulação de ACTH (Hormônio Adrenocorticotrófico) e aumento transitório de Prolactina

* Neuroplasticidade - aumento das fibras musgóides

* Diminuição na indução do gene blc-Xs - responsável pela morte e apoptose neuronal

* Neuroproteção (robustez do citoesqueleto)

* Equilíbrio de Neurotransmissores Serotonina, Dopamina, Noradrenalina e Glutamato

* Redução da concentração de marcadores de degeneração neuronal no líquor de pacientes submetidos à ECT (proteina tau, proteina S-100 beta e neurofilamentos) 

* Aumento de ADENOSINA extracelular - neuromodulador que possui efeitos inibitórios sobre o Sistema Nervoso Central, ajudando a reduzir a excitabilidade dos neurônios, o que envolve a regulação do sono, diminuição da ansiedade, neuroproteção e modulação da liberação de neurotransmissores como Dopamina e Glutamato.

 


É bastante pertinente lembrar que os próprios transtornos mentais - sua severidade, cronicidade, período de tempo sem tratamento e sintomatologia residual - causam prejuízo cognitivo importante e em consequência disso nem todo déficit cognitivo apresentado, após um curso de ECT, é derivado do tratamento. Alguns quadros depressivos são um exemplo importante dessas alterações profundas na cognição (memória) e muitas vezes são justamente denominados de "pseudodemência" - nesses casos a ECT pode melhorar a cognição.  O tipo de medicamento utilizado e sua posologia também pode influenciar e causar efeitos colaterais cognitivos.


O procedimento é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução 2.057 /13. 

O aparelho atual de ECT é moderno e avançado, produzido especificamente  para esta tecnica de Neuromodulação. 

A ECT é reconhecida pela Associação Médica Brasileira (AMB) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

A ECT é usualmente realizada em Clínicas Especializadas e nos principais Centros Universitários do Brasil, como Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP) e Hospital e ambulatório da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

É também aplicada em vários países como: Estados Unidos (USA), Reino Unido, França, Austrália, Alemanha, Japão, Índia, Suécia, Portugal, China, Canadá, Argentina, Chile, Suíça e outros países ao redor do mundo. 

"Apesar do estigma ainda existir na atualidade, é inquestionável que a ECT é uma intervenção eficaz, segura e, muitas vezes, capaz de salvar a vida, principalmente em transtornos nos quais outras intervenções tiveram pouco ou nenhum efeito"

(Livro Eletroconvulsoterapia - Sérgio Paulo Rigonatti, Moacyr A. Rosa, Marina O. Rosa)


DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA REALIZAÇÃO DE ECT


1 - Relatório Médico apresentando os seguintes:

    A - Patologia de Base (CID da doença)

    B - Sintomas alvo para tratamento com ECT

    C - Comorbidades Psiquiátricas

    D - Número de Sessões e sua Frequência

    E - Medicação em Uso e suas respectivas dosagens


2 - Exames Clínicos Laboratoriais:

    A - Hemograma Completo

    B - Coagulograma Completo

    C - Sódio, Potássio, Cálcio {Iônico e total} e Magnésio

    D - Uréia e Creatinina

    E - Glicemia de jejum

    F - Proteínas total e frações

    G - TGO, TGP e GGT

    H - TSH 

     I - Radiografia de Tórax *

    J - TC de crânio *


* Exames solicitados em casos específicos.



3 - Risco cirurgico

    A - Eletrocardiograma (ECG)

    B - Risco Cirurgico Cardiológico para Anestesia (ASA)


4 - Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) - Documento que explicita o consentimento do paciente ou responsável legal, obtido antes do início da realização da ECT. O TCLE garante que a participação do paciente é voluntária.          (Google)




PUBLICAÇÕES e SITES SOBRE NEUROMODULAÇÃO e PSIQUIATRIA







* A VERDADE SOBRE A ELETROCONVULSOTERAPIA 

[ Neste vídeo a psiquiatra Helen M. Farrel relata o caso de uma enfermeira que teve Depressão Resistente ] 


*IPAN - INSTITUTO DE PSIQUIATRIA AVANÇADA E NEUROESTIMULAÇÃO [Site dos Doutores e Mestres Moacyr A. Rosa e Marina O. Rosa]


* EU TINHA UM CACHORRO PRETO E SEU NOME É DEPRESSÃO


* EFEITO WERTHER: COMO UM SUICÍDIO PODE AFETAR OUTRAS PESSOAS


 O QUE HÁ POR TRÁS DO ESTIGMA DO TRATAMENTO COM ELETROCHOQUE, EFICAZ  CONTRA DEPRESSÃO GRAVE 


* OS BENEFÍCIOS SURPREENDENTES DA ELETROCONVULSOTERAPIA 


* PSICOSE PÓS PARTO "ACHEI QUE TIVESSE ASSASSINADO MINHA BEBÊ" 


* O RENOMADO CIRURGIÃO E ESCRITOR SHERWIN NULAND SOBRE TERAPIA COM ELETROCHOQUE

* ELETROCHOQUE - NA ÉPOCA DOS ANTIDEPRESSIVOS, O MAIS CONTROVERSO DOS TRATAMENTOS PSIQUIÁTRICOS ESTÁ DE VOLTA, DEPOIS DE DECADAS DE OSTRACISMO

*   REVISTA MÉDICA ESPECIALIZADA EM NEUROMODULAÇÃO (THE JOURNAL OF ECT)